Embora tenha se formado em Direito, Clarice Lispector nunca advogou, sobrevivendo basicamente do jornalismo e, acessoriamente, dos trabalhos de tradução. Em 1940, quando ainda cursava a faculdade, ela ingressou no Departamento de Imprensa e Propaganda para exercer, em princípio, a função de tradutora, mas findou sendo redatora da Agência Nacional. Sua primeira reportagem, “Onde se ensinará a ser feliz”, foi publicada em 19 de janeiro de 1941, no Diário do Povo, de Campinas (SP), relatando a visita da primeira-dama da República, Darcy Vargas, a um orfanato feminino. No ano seguinte, ela começou a trabalhar como redatora de A Noite e obteve seu registro profissional como jornalista, profissão que exerceria até dois meses antes de falecer, com o hiato forçado pelo período em que viveu no exterior como esposa do diplomata Maury Gurgel Valente.
Durante os anos 50 e 60, Clarice escreveu, sob os pseudônimos de Teresa Quadros, Helen Palmer e como ghost-writer da atriz e modelo Ilka Soares, respectivamente, para os jornais Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite. Os textos tratavam do universo próprio das mulheres da época, dando dicas de economia doméstica, receitas culinárias, saúde e comportamento. Passada esta fase das colunas femininas de contingência – reunidas nos títulos Correio feminino e Só para mulheres, organizados por Aparecida Maria Nunes –, Clarice Lispector teve papel de destaque no Jornal do Brasil, onde foi colaboradora na mesma época que Carlos Drummond de Andrade, assinando uma crônica semanal aos sábados, entre agosto de 1967 e dezembro de 1973. Os textos foram reunidos em livro por seu filho, Paulo Gurgel Valente, em 1984, na coletânea A descoberta do mundo.